É por aí?

O mundo perdeu a graça

Por: Enrique Coimbra 
Máquina de escrever
Máquina de escrever Foto: Fabio Seixo
Não tenho paciência pra ir ao cinema. Não consigo gostar de balada. Tô de saco cheio das ficadas que não levam a nada. Pra que comprar pão se existe delivery de pizza? Estou tão enjoado dos meus amigos que até cancelei assinatura de feed no Facebook... Insira aqui um suspiro profundo, porque o mundo perdeu a graça: quando tudo é previsível e cansativo, não resta outra opção a não ser ficar em casa.
E só os deuses egípcios sabem que meu coração das cartas tá morrendo. Quando brigava bastante com meus pais, estar longe de casa era essencial. Viver nas ruas, rir com o grupinho e tomar grandes doses de vinho perto do cemitério era o cenário ideal de uma vida movimentada, com adrenalina pra manter meu senso de aventura no alto.
Cinco anos depois, não quero adrenalina. Talvez passar pela casa dos 20 seja a razão de enxergar minha casa — agora em paz — como um farol de repouso, de respiração, o lugar mais seguro de todas as dimensões. Por isso, dificilmente ponho o pé pra fora. Quando ponho, é pra conhecer gente nova (porque velhos conhecidos não têm mais nada a oferecer) ou por obrigações que ainda não consegui me livrar.
Larguei faculdade e estágio pra me dedicar por inteiro aos meus projetos de livros e site, que acabo me enxergando como um desses escritores clichês: sozinho por opção, psicologicamente ferrado, pseudo-hipster com uma câmera analógica na mão, bebendo oitocentas canecas de café por minuto e escrevendo sobre amor sem conseguir vivê-lo por preguiça de relacionamentos. Se substituir o café por água, deus, esse sou eu no meu melhor momento.
Porque o mundo perdeu a graça e o que tá dentro da minha cabeça é muito mais legal de explorar.

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