A “morte” da independência


Walnize Carvalho
Sete de Setembro, de idos setembros.
A expectativa pelo dia do Desfile da Independência tornava ávido meu coração estudantil e - posso afirmar - da maioria da meninada da escola.
  Nos dias que antecediam o grande acontecimento,o ginásio do Instituto de Educação lotava de alunos e professores em tardes de ensaio. A formação dos pelotões; a indicação dos que levariam bandeiras; o aconselhamento dos mestres quanto a postura (tanto corporal como comportamental) era repetido à exaustão.
Ao término seguia para casa imbuída de entusiasmo, ainda com o “ratimbum’ dos tambores nos ouvidos.
        Chegada do grande dia.
        O uniforme impecavelmente preparado pelas mãos habilidosas de mamãe,(tanto o meu, como o de minhas irmãs) aumentava nosso orgulho pelo que dever cívico, queríamos demonstrar na avenida.
        E assim...
       Avenida Alberto Torres.
         Em frente ao Balalaica, posicionados nossos pais ,tios e primos vibravam não só com o desfile de instituições, entre outras (que me ocorrem agora):Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, Guarda Municipal, Moto Clube de Campos; Legião dos Veteranos de Guerra; bandas municipais bem como com  as Escolas: Liceu,Agrotécnica,Auxiliadora, Nilo Peçanha ...e o nosso Instituto de Educação.
        Estanco as lembranças e imediatamente a imagem de um Desfile,que ficou gravado em minha memória reaparece com nitidez perfeita.
Recordo que todo ano um fato se repetia:Eu, estudante ginasial (a mais baixinha da sala) sempre me frustrava no ensaio no pátio da escola, quando eram formadas as filas para o desfile de 7 de setembro. E a frustração era maior porque ao sair à rua,na data da comemoração da Independência, lá estava eu, na última fileira,na "rabada"(conforme falavam à época).
        Resolvi tirar proveito da situação e no ano seguinte levei meu bom humor para a avenida.Aproveitando a distração dos professores dava acenos,brincava com os que estavam do lado de dentro da corda de isolamento,recebia deles copos d'água e até picolés.Tudo isso numa irreverência nada comum naquele tempo...
       E eis que no memorável ano de 1967, a novidade: A professora resolveu me agraciar, dando-me a missão e responsabilidade de sair à frente de um pelotão carregando a Bandeira Nacional!
Ao formar a fila foi que me dei conta de que era "O pelotão das baixinhas"!...
Daí pra frente desfilei com garbo,afinal,não poderia perder a pose nem o patriotismo. Mas, a bandeira pesava, o rosto ruborizava, o suor escorria pela face e o olhar atento, dos que ali estavam assistindo o desfile, faziam-me quase tropeçar nos próprios passos...
   Tentando manter a compenetração, pensava: - Tudo pela Pátria! Mas ano que vem quero estar lá no meio das minhas colegas, pois nessa posição de destaque acabei“matando” minha independência ,ou melhor, a liberdade de marchar junto a elas pelo mesmo ideal.

       Refeitas as lembranças, reconheço que nada faz sepultar em mim a admiração dos que fazem do “Sete de Setembro” um momento de reflexão sobre o nosso país. 

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