Regina Casé: “Nas férias, fico no hotel mais caro de Paris”



Claudio Augusto/Photo Rio News
A apresentadora Regina Casé reclamou, em entrevista, sobre as cobranças que fazem nas redes sociais por ela morar no Leblon e “adorar” as favelas. Segue trecho da reportagem:
E de acordo com a apresentadora, as cobranças em relação ao status social ultrapassam o programa e atingem sua vida pessoal. “Acho engraçado quando dizem: ‘ah, ela diz que gosta de pobre, mas mora no Leblon. Nasci em Copacabana, eles queriam que eu vendesse tudo para ir morar na favela?“, indagou ela. “Gente, posto todas as fotos das minhas férias, fico no hotel mais caro de Paris. Tenho amigos ricos, tenho amigos pobres. Liberdade é gostar de uma pessoa independente da cor da pele dela, da classe social, se ela tem grana ou não tem grana. As pessoas têm a mania de achar que porque uma pessoa é rica não pode frequentar a favela. Adoro que parece uma mentira, mas está na cara. Posto foto dos melhores lugares do mundo”, desabafou.
Acho que Regina Casé não compreendeu exatamente o teor das críticas. Como autor deEsquerda Caviar, sinto-me no dever de tentar explicar (e já ofereço um exemplar à apresentadora, se ela assim desejar).
Regina Casé é rica, ganha muito dinheiro com a TV Globo (demonizada pela esquerda). Tem total direito a ele, é uma remuneração legítima por seu trabalho, pela audiência que gera. Assim funciona o capitalismo, o lucro, o mercado. Pode-se, claro, condenar o gosto dos consumidores, mas as trocas são voluntárias, ninguém obriga ninguém a assistir programa algum. Sua riqueza é, nesse sentido, merecida, e ela faz com o próprio dinheiro o que bem quiser, o que lhe der na telha, pois ninguém tem nada com isso.
Mas aqui já temos o primeiro problema. Quando empresários, capitalistas, especuladores, banqueiros e tantos outros ricaços que ganham fortunas igualmente legítimas torram em objetos de luxo por aí, compram carrões, mansões e iates, a turma da esquerda socialista costuma descer o sarrafo neles: “gananciosos, insensíveis, elitistas”. Os ricos, na narrativa de esquerda, são culpados pela pobreza dos pobres, já que assumem que riqueza é um bolo estático, que economia é um jogo de soma zero (maldito Marx).
Ou seja, quando o rico capitalista não veste uma máscara de socialista ou, ao menos, da esquerda caviar, engajado na luta pela “justiça social” condenando a própria ganância e o capitalismo em si, ele é execrado por essa legião de adoradores de tiranias de esquerda, ou é alvo de duros ataques daqueles que monopolizam as virtudes. O rico só pode gozar da riqueza em paz se tiver uma retórica esquerdista.
O segundo grande problema na fala da apresentadora é que ela confunde alhos com bugalhos. Quem foi que disse que o rico não pode gostar de pobre? Absurdo. Aliás, tal acusação costuma, uma vez mais, partir justamente da própria esquerda, que gosta de repetir que os ricos, quando não adotam o discurso esquerdista, são preconceituosos e não ligam para os mais pobres. Balela.
Então, qual é o problema? Ora, não está no fato de Regina Casé gostar ou não de pobres ou mesmo de dar um pulo nas favelas uma vez na vida e outra na morte (e logo retornar para seu luxo no Leblon, pois ninguém é de ferro), mas sim na glamourização que faz da miséria alheia. Seu programa, que confesso não ter estômago para assistir (o que já fiz por ossos do ofício), costuma enaltecer a vida da periferia, dos guetos, das favelas. A impressão que passa é que viver nesses locais deve ser o máximo!
É aí que mora o problema, Regina: “adorar” as favelas, do conforto do Leblon, é fácil. “Amar” Cuba, do conforto de Paris (como faz Chico Buarque), é moleza. “Elogiar” a periferia, mas fugir para Angra dos Reis nos fins de semana, qualquer um faria. O problema, em suma, poderia ser chamado de hipocrisia. Joãozinho Trinta resumiu bem a coisa: quem gosta de pobreza é intelectual, pois pobre gosta mesmo é de luxo.
Chega a ser ofensivo para com os mais pobres, que precisam viver em favelas por falta de melhor oportunidade, alguém que vive no conforto do Leblon, o metro quadrado mais caro do país, ficar vendendo o peixe (e caro) de que morar nesses locais é uma maravilha. Não é. Falta segurança, saneamento básico, urbanização, muita coisa que o morador do Leblon não suportaria ficar sem por um minuto sequer – e com razão.
Quem realmente gosta dos pobres deveria, antes de mais nada, lutar para acabar com ou reduzir a pobreza. E isso se faz com um choque de capitalismo liberal, justamente aquilo que a esquerda mais abomina. Agora, ganhar dinheiro vendendo a ideia de que viver na pobreza é uma delícia, isso não me parece um ato muito generoso para com os mais pobres…
Rodrigo Constantino - VEJA

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