Época traz novas denúncias contra "Garparzinho", o fantasminha camarada
Matéria da Revista "Época", versão on-line:
Fantasma ligado a Garotinho é dono de apartamento de luxo
Polícia investiga caso do empresário que não existe e que tinha negócios milionários com o deputado federal e seu partido

A Delegacia Fazendária (Delfaz) da Polícia Civil do Rio de Janeiro
abriu inquérito para apurar quem está por trás de um empresário fantasma
usado para desviar dinheiro público. Na manhã de segunda-feira (3),
durante operação de busca e apreensão
realizada como parte das investigações, a Delfaz fez uma descoberta
inusitada. O fantasma aparece em certidões de cartório como dono do
apartamento 402 em um dos prédios do Barra Golden Green, um dos
condomínios mais caros do Rio de Janeiro, na praia da Barra da Tijuca,
com direito a vista para o mar e campo de golfe. Um imóvel no local não
sai por menos de R$ 3 milhões. ÉPOCA revelou o desvio contra o erário no
fim do mês passado. George Augusto Pereira não existe,
mas aparece como dono da GAP Comércio e Serviços Especiais, que
embolsou milhões em verbas públicas. A empresa tem ligações com o
deputado Anthony Garotinho (PR-RJ) e sua família.
George surge como proprietário do imóvel em uma escritura de promessa
de compra e venda datada de fevereiro de 2007. Até as contas de energia
elétrica vinham em nome da assombração. Mas, no apartamento, em vez de
George, os policiais civis encontraram o empresário Fernando Trabach
Gomes, que comanda uma rede de postos de gasolina. ÉPOCA revelou que
Trabach se fazia passar por George, inclusive em telefonemas com a
reportagem (ouça áudios das conversas abaixo). Ele também
possui ligações, mesmo que indiretas, com Garotinho. O empresário
prestou serviços para a campanha do PR no Rio em 2010, fornecendo
combustível. O deputado é presidente estadual do partido e comanda a
legenda com mãos de ferro, inclusive nas campanhas eleitorais.
O fantasma George tinha uma carteira de identidade falsa, usada para
abrir a GAP e movimentar contas bancárias, por onde passaram milhões em
dinheiro público. A empresa foi contratada, em 2009, pela Prefeitura de
Campos dos Goytacazes, cidade do norte fluminense administrada pela
prefeita Rosinha Garotinho (PR), mulher do deputado. O contrato para
aluguel de ambulâncias é totalmente fraudulento e deu prejuízo de R$ 32
milhões à prefeitura, segundo acusa o Ministério Público do Rio.
No apartamento do Golden Green, a Delfaz apreendeu quatro pen-drive e
um laptop que estavam com Trabach, além de documentos. Também foram
recolhidos computadores e uma grande quantidade de papéis na sede da
GAP, que fica em Duque de Caxias, Baixada Fluminense. Atualmente, a
empresa está em nome da mãe do empresário, Jacira Trabach Pimenta. A
próxima etapa da investigação será a análise do material apreendido.
Garotinho se defende, afirmando que nunca conheceu George. O deputado
diz que Trabach sempre se apresentou como o representante da GAP. “Os
motivos para o senhor Fernando Trabach se passar por outra pessoa só ele
poderá explicar à polícia”, escreveu em sua página na internet.
Garotinho, porém, ainda não respondeu a uma série de perguntas sobre o
caso (leia abaixo). Trabach alega que também não sabia da fraude.
Sete perguntas para Garotinho responder sobre o empresário fictício George Augusto Pereira
O deputado Anthony Garotinho (PR-RJ) ainda deve muitas explicações
sobre sua relação com o empresário fantasma George Augusto Pereira dos
Santos. ÉPOCA elaborou sete perguntas que o deputado não respondeu sobre
o caso.
George Augusto Pereira nunca existiu, foi criado a partir de uma
carteira de identidade falsa. Suas iniciais deram origem à GAP Comércio e
Serviços Especiais, uma empresa com relações muito próximas a Garotinho
e sua família. Graças a essas ligações, a GAP embolsou mais de R$ 32
milhões em contratos públicos. No raro momento em que veio a público se
explicar, Garotinho disse que não sabia quem era George. Permanecem as
seguintes dúvidas:
1. Em junho de 2011, Wladimir Matheus, um dos filhos de Garotinho, emprestou um carro de luxo da GAP. O rapaz sofreu um acidente e destruiu o automóvel, um Ford Fusion modelo 2011, contra um muro. Logo depois, o fantasma George, ou melhor, alguém se fazendo passar por ele, deu uma entrevista à ÉPOCA. O falso George chamou Matheus de “um amor de pessoa”, demonstrou intimidade com o rapaz e disse que não cobraria o prejuízo com a perda total do carro, avaliado em R$ 80 mil. Por que Garotinho não procurou George, ao menos para saber quem era o empresário que elogiava tanto seu filho e poupava o rapaz de pagar o prejuízo com o carro? |
2. Desde 2009, a GAP tem contrato milionário com a Prefeitura de Campos dos Goytacazes, cidade do norte fluminense. A prefeita é Rosinha Garotinho (PR), mulher do deputado e mãe de Matheus. Na semana passada, Garotinho disse à rádio CBN que seu filho fez mal ao emprestar o carro de uma empresa contratada pela prefeitura, por haver conflito de interesses. Por que, então, Garotinho não procurou George para cobrir o prejuízo com o carro destruído? Se há conflito de interesses só em emprestar um veículo, não existe conflito ainda maior em não ressarcir a empresa? |
3. Na mesma época do acidente de Matheus, Garotinho alugava da GAP um Ford Fusion 2011 com verba da Câmara para transitar em Brasília. Ele diz que o carro destruído pelo filho não é o mesmo alugado pela Câmara. Mas se George não existe, quem assinou os recibos para comprovar a locação do veículo? |
4. Entre 2009 e 2011, a GAP embolsou R$ 32 milhões da Prefeitura de Campos dos Goytacazes para alugar ambulâncias ao município. Ainda tem um contrato de R$ 15 milhões em vigor, totalizando R$ 47 milhões. Desde agosto de 2011, o Ministério Público do Rio afirma que a contratação foi totalmente fraudulenta. Por que, diante de uma acusação tão grave, a prefeitura não fez uma rigorosa auditoria na GAP? Por que a prefeitura não intimou George a se explicar sobre as acusações do Ministério Público? |
5. No mês passado, ÉPOCA publicou que George já estava sendo investigado e que, pelo menos no papel, vendera a milionária GAP por apenas R$ 100 mil. Dois dias depois, Garotinho discursou no plenário da Câmara e disse que não havia irregularidades na contratação da empresa pela prefeitura de Campos, pois a GAP “ganhou licitamente a concorrência”. O deputado mandou investigar o contrato e concluiu que tudo era legal? Como ele chegou a tal conclusão, se George é um fantasma? |
6. O empresário Fernando Trabach Gomes se fazia passar por George. Ele falou em nome do fantasma em uma entrevista concedida à ÉPOCA em 2011. Garotinho admitiu que conheceu o empresário na campanha para deputado federal em 2010. Também afirmou que Trabach sempre se apresentou como representante da GAP. O deputado nunca interrogou Trabach sobre quem era, afinal, George, o dono da empresa com contrato milionário com a prefeitura, com negócios com seu gabinete e que ainda emprestara um carro a seu filho? |
7. Trabach opera uma rede de postos de gasolina que forneceu combustível à campanha do PR ao governo do Rio. Garotinho comanda o PR no Estado. O empresário recebeu R$ 1,2 milhão da campanha, mas apresentou à Justiça Eleitoral notas fiscais com indícios de falsificação. Trabach também enganou o PR, ou integrantes do partido sabiam do esquema? Além de Garotinho, de seu filho, da sua mulher Rosinha, o empresário também passou a perna na legenda que o deputado preside no Rio? |
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