Velha companheira

Walnize Carvalho

Com o fim de mais um ano preparo-me para a sua despedida. E, confesso, já estou com saudades dela.
Olho-a com ares de ternura e uma certa melancolia me invade.
Vejo o seu jeito cansado, desgastado, amarrotado pelo tempo – afinal, o ano de 2012 já é quase passado – e ela ali, firme, guerreira, acima de tudo, velha companheira. Sem ser volúvel (mas é necessário que assim o faça) irei substituí-la por outra. É o ciclo da vida. Com ela, nos doze meses do ano que está prestes a ser passado, dividi tristezas e alegrias. Arquitetei planos. Realizei sonhos. Deixei em sua face sinais de lágrimas e até marcas de batom. Impregnei-a de frases lidas, ouvidas e até criadas por mim. Empenhei com ela (em vão) a sentença de que “não se deixe para amanhã o que pode fazer hoje”. Mas, muitas vezes, dada às circunstâncias coisas ficaram para... depois de amanhã. Ela, compreensiva e silenciosa, sempre entendia os meus anseios. Minhas frustrações? Passei-lhe todas. Derramei sobre seus ombros várias emoções vividas e ela as recebia com entusiasmo. A simbiose afetiva transcorria de forma envolvente e profunda. Verdadeira entrega. Como autêntica arquivista documentou tudo o que eu lhe passava sem contestação. Agora, aqui fico a admirá-la e esquecida de mim leio em seu semblante minha história desenhada. Revejo no tempo o meu aprendizado e constato que foi enriquecedor estar em sua companhia. Ela está de partida. Cansada, mas com sentimento do dever cumprido, pois mais do que companheira foi minha cúmplice. Aguentou, serenamente, confissões e desabafos...
Sendo assim...com o término de mais ano e início de outro preparo-me para despedir-me da minha AGENDA .
Uma amiga? Uma companheira? Tudo isso.
Mas, acima de tudo, a reprodução de mim mesma.

Comentários

danillo disse…
maravilhoso!!!

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