Crônica de sábado




A volta à Rua do Gás

Walnize Carvalho

Depois de um pouco mais de quarenta anos (por opção e comodidade) estou de volta à Rua do Gás. E neste retorno, venho tornar-me vizinha de minha casa de infância, onde reside minha mãe. Deixei aos cuidados dos filhos, a casa da Aquidaban, que sempre será meu ponto de referência.
E aqui estou eu, convivendo com o passado e o presente em clima de total harmonia, onde ambos exercem a verdadeira política “da boa vizinhança”.
E assim... Como é bom acordar ao som de acordes musicais advindas do Batalhão da Polícia Militar (oitavo BPM) da próxima Formosa... Como é bom olhar pela janela e avistar a antiga Caixa D’água... Como é bom ouvir a passagem de torcedores, rumo ao Campo do Goitacás... Como é bom avistar ciclistas ( que vem lá da Ponte da Lapa) apressados e falantes rumo ao trabalho...Como é bom passar na porta do “Externato Regina”-minha primeira Escola...Como é bom saudar antigos vizinhos como: “Seu” Zenilton do “Bar Esplanada”; “Seu” Raul da Retifica ; as amigas de infância da família Amaruzza...
A lembrança viva dos anos vividos está, pois, materializada.
O tempo, por generosidade, estanca e me põe nos trilhos de saudosas lembranças. Visualizo o bonde que passava rente as calçadas; a venda de “Seu” Paulinho; a barbearia dos irmãos Délio e Antônio; a alfaiataria do meu saudoso pai,Waldir; a movimentação de visitantes ao “Centro Esportivo Fluminense”(onde funcionava rinha de galos); a padaria de “Seu” Pedra; os netos de D.Zulmira e suas traquinagens; a chácara da família Monção; o Horto Municipal na Rua do Mercado; a Carpintaria do “Seu” Carlinhos; a pensão de Dona Caçula e seu abnegado entregador de marmitas, Joel e as filhas(Conceição e D.Castorina)que mantinham amizade com as filhas de "Seu" Peixotinho e juntas se dirigiam à "Escola Jesus Cristo"...

Não ficam de fora, neste filme que passa diante dos meus olhos, as brincadeiras ( logo após o jantar) de pular corda e bambolê com as filhas de Dona Inês e de Dona Marieta, sob o olhar atento(claro!) dos adultos sentados em cadeiras na calçada; as tardes agradáveis de domingo na casa do Capitão Vitor, onde na companhia de sua filha Taninha : eu, minhas irmãs e colegas tínhamos como diversão, o “Concurso de Misses”...
Nesse flash de doces lembranças, vale me fixar em personagens inesquecíveis como o “seu” Sidney, em sua bicicleta com um cesto de pães fresquinhos ( coberto de toalha alvinha), todas as tardes efetuando a venda nas residências e o “seu” Zé Turco (que consertava calçados, para mais tarde adquirir um bar,onde um dia inaugurou uma máquina de fazer sorvete).Ah!... Pareço vê-lo exultante, assemelhando-se a um cientista manuseando tubos de ensaio, de onde líquido multicolorido rapidamente se transformava em delícia glacial. Depois, todo entusiasmado, na porta do estabelecimento e, em alto e bom som, convidando os que por lá passavam: - Venham conhecer a novidade! E acrescentava: - Num piscar de olhos são fabricados sorvetes dos mais variados sabores: creme holandês, framboesa, uva, morango... Basta escolher, provar e aprovar!
Pois é, Zé! É como a vida: escolher, provar, aprovar, recomeçar, retornar... como eu agora, à Rua do Gás!
Rua do Gás. Rua de infância. Reinauguro mais um tempo de felicidade.


Comentários

Adorei, Walnize!!!
Quanto tempo não ouvia falar em sorvete de creme holandês. Na minha infância, em Cabo Frio, tinha isso também.
E não posso deixar de falar sobre a citação as filhas de Peixotinho. Saudades de minhas tias e minha mãezinha que está se recuperando em São Roque.
Como é bom ter lembranças gostosas...
Beijo enorme.
Gustavo Rangel disse…
creme holandês!!!
tb sou desse tempo!!
ahhahah
muito bom,Walnize!
walnize carvalho disse…
Somos todos do século passado KKK
Bjs e obrigada

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